"Jesus foi para o monte das Oliveiras. Ao amanhecer, ele voltou ao Templo, e todo o povo ia ao seu encontro. Então Jesus sentou-se e começou a ensinar.
Chegaram os doutores da Lei e os fariseus trazendo uma mulher, que tinha sido pega cometendo adultério.
Eles colocaram a mulher no meio e disseram a Jesus: "Mestre, essa mulher foi pega em flagrante cometendo adultério. A Lei de Moisés manda que mulheres desse tipo devem ser apedrejadas. E tu, o que dizes?"
Eles diziam isso para pôr Jesus à prova e ter um motivo para acusá-lo. Então Jesus inclinou-se e começou a escrever no chão com o dedo. Os doutores da Lei e os fariseus continuaram insistindo na pergunta.
Então Jesus se levantou e disse: "Quem de vocês não tiver pecado, atire nela a primeira pedra."
E, inclinando-se de novo, continuou a escrever no chão. Ouvindo isso, eles foram saindo um a um, começando pelos mais velhos. E Jesus ficou sozinho. Ora, a mulher continuava ali no meio. Jesus então se levantou e perguntou: "Mulher, onde estão os outros? Ninguém condenou você?" Ela respondeu: "Ninguém, Senhor." Então Jesus disse: "Eu também não a condeno. Pode ir, e não peque mais".
O novo Sol
Neste quinto domingo de Quaresma, a Igreja nos oferece um texto do evangelho de João, que atualmente se reconhece não pertencer ao autor do quarto evangelho.
Pelo estilo da redação e da linguagem utilizada, aproxima-se mais do evangelho de Lucas, que é o evangelista deste ano. O texto inicia com Jesus no monte das Oliveiras, para onde ele costumava retirar-se a fim de rezar, para estar a sós com o Pai. Dali, ao amanhecer, dirige-se ao templo.
Lembremos que o Templo era o lugar central de culto ao Deus de Israel, o lugar da lei, mas também onde se concentrava o poder religioso judaico, opressor e injusto.
É fortemente simbólico que o autor deste texto coloque Jesus desde o amanhecer no Templo. Para entender esta cena, precisamos recorrer ao cântico do Benedictus no qual Jesus é o sol nascente. Ele nasce do alto "para iluminar os que vivem nas trevas e na sombra da morte; para guiar nossos passos pelo caminho da paz (Lc1,78-79).
Jesus é o novo Mestre que revela o verdadeiro rosto de Deus e seu projeto de vida para todos/as. Obviamente seus ensinamentos, assim com seu estilo de vida, provocam cada vez mais a rejeição das autoridades judaicas.
Mas não do povo que ia sedento escutá-lo, "admirados pelas palavras cheias de encanto que saiam de sua boca" (Lc 4,22).
Enquanto isso acontece, irrompem "os doutores da Lei e os fariseus, trazendo uma mulher, que tinha sido pega cometendo adultério".
O evangelista volta a jogar com os posicionamentos da cena. Os doutores da Lei, que condenam a mulher, coloquem-na no meio, "lugar" dos destinatários preferenciais da salvação de Deus.
Em vários outros textos, vemos Jesus colocar no meio da comunidade as crianças, as viúvas, os doentes, porque eles/as estão ao centro do Projeto de Deus.
No centro de nossas famílias, comunidades, projetos, quem estão e por que motivo?
Os fariseus estavam realmente interessados em ter um motivo para acusar e condenar Jesus. Mas Ele não cai na armadilha! Deixa que eles terminem de falar e logo tudo se envolve de um profundo silêncio, interrompido de vez em quando pela insistência dos doutores.
Quando Jesus fala, suas palavras têm a autoridade de chegar às consciências das pessoas ali presentes: "Quem de vocês não tiver pecado, atire nela a primeira pedra".
Volta-se ao silêncio, mas a consciência dos acusadores não ficou calada, porque um a um foram-se retirando, "começando pelos mais velhos".
Dessa maneira, ficam sós Jesus e a mulher. Podemos imaginar e até sentir o estado em que se encontraria a mulher, a humilhação e medo que ela experimenta.
Jesus inicia o diálogo, transgredindo a lei que não permitia a um judeu se dirigir em público a uma mulher desconhecida, muito menos na situação na qual ela se encontrava.
Mas Ele o faz e com ternura lhe pergunta: "Mulher, onde estão os outros? Ninguém condenou você?". Ele sabe a resposta, mas quer que a mulher se sinta digna de responder.
Este diálogo revela a pedagogia de Jesus: que a outra pessoa, independente da situação na qual se encontre, encorajada pelo espaço de confiança que o outro lhe oferece possa exercer o direito de falar e assim iniciar lentamente o caminho da autonomia.
Escuta-se pela primeira vez a voz da mulher: "Ninguém, Senhor". E logo a oferta de salvação de Jesus: "Eu também não a condeno. Pode ir, e não peque mais".
Essas palavras nos remetem a outra passagem do quarto evangelho: "Deus enviou seu Filho ao mundo não para condenar o mundo senão para que o mundo se salve por ele" (Jô 3,17).
Dessa maneira, no meio do templo, Jesus se apresenta como o Filho de Deus com entranhas de compaixão e misericórdia, do qual jorra a vida em abundância para essa mulher e nela para toda a humanidade necessitada.
Por isso juntos/as podemos afirmar que as palavras do cântico do Benedictus que citamos antes são verdade e são vida: cantar as palavras do Benedictus:
"Graças ao coração misericordioso de nosso Deus, o Sol que nasce do alto nos visitará, para iluminar os que vivem nas trevas e na sombra da morte; para guiar nossos passos pelo caminho da paz." Amém"
EU HEIN? NÃO ATIRO PEDRA NENHUMA!
ResponderExcluirBom domingo, Maria Teresa! Que a LUZ sempre ilumine seu coração.
Abração
Jan
Muito interessante! obrigada pela partilha.
ResponderExcluirBjs
A quaresma é período de reflexões. E nada como o textos assim, para propiciá-la. Bjs.
ResponderExcluirOi Maria Theresa...
ResponderExcluirVim agradecer seu carinho...e meditar junto com você ....Obrigada pela partilha do envagelho...
Beijos!
San...